Desfile da Chanel na Semana da Moda em Paris

01-05-2011 11:05

 

Karl Lagerfeld reinventa o fim do mundo

 

Se todos pensavam que o Armagedão seria sinónimo de desgraça e desmazelo, após o desfile da Chanel na semana da moda, em Paris, já ninguém o acha. Karl Lagerfel apresentou a catástrofe numa versão aprimorada e estilizada, entre visuais sofisticados e urbanos que constituíram a sua apresentação da colecção Outono/Inverno 2012 da Chanel.

     Numa clara reviravolta daquilo que é costume ser apresentado por esta marca, o director artístico investiu num estilo mais descontraído e distante dos elementos que o consagraram. Numa fase inicial apresentou modelos que envergavam peças com claras referências masculinas, conferindo-lhes um aspecto andrógino mas sempre elegante.

     Envergando calças com cortes mais folgados, de comprimento alongado, onde as bainhas sobressaiam acumuladas por dentro das botas e usando blazers e mantos aos quais foram sobrepostos os clássicos tailleurs, Lagerfeld manifestou a intenção de se manter fiel aos elementos constantes da Maison ainda que de um modo mais despojado.

  Nas produções seguintes houve uma invocação ao lado feminino, surgindo conjuntos em tweed de casacos e saias, que contrastavam com as anteriores e com as seguintes, em cortes de alfaiataria com modelagens amplas. Tal como as experimentações nas peças clássicas, foi conferido de igual modo destaque aos looks mais casuais que mostram, até, jeans colados ao corpo para esta nova colecção. Também os macacões são, aos poucos, introduzidos nesta proposta irreverente, sendo invariavelmente justos e com múltiplas aplicações.

    Num apelo à sensualidade, os decotes em “V” de paletó e casacos usados sem camisa reforçam os poucos esforços que aqui prezaram pela voluptuosidade. Enquanto, inicialmente, os toques de descontracção conduziram o passo cruzado das modelos pela catwalk, o arrojo e distinção intemporais da Chanel depressa envolveram o desfile, evocando uma beleza que nunca passa de moda. Vestidos minimalistas, em cortes simples, com a preferência óbvia pelo negro, abriram uma sequência mesclada pela irreverência e atitude de Lagerfeld, com o toque refinado de Chanel. Saias longas com inúmeras camadas de tule recortado, tops mais estruturados, calças divididas em camadas de renda e os cortes rectos e justos forma algumas das peças que evidenciaram um estilo coordenado e sintonizado, apesar da sua variedade.

    Os tons mate nas botas da marca assumem ainda maior destaque nas próximas temporadas, conquistando visuais inteiramente bordados em macacões que, por vezes, chegam confeccionados em couro, material que confere um aspecto mais rígido e é aplicado, posteriormente, em recortes e detalhes de outros artigos. Os tão frequentes conjuntos surgem em tons monocromáticos e bastante sóbrios, alcançando resultados bem comportados.

     Já a inserção de rendas e transparências em novos vestidos e, também, macacões, contrastam com tal austeridade, realçando uma subtil delicadeza nas peças finais que também contaram com bordados. Nos poucos e, ainda assim, marcantes vestidos curtos deste trabalho, são as mangas curtas com ombros arredondados e volumosos e as golas altas os pontos característicos dessas peças.

    Viu-se desde as bolsas quadradas com as constantes alças de correntes douradas e as luvas tão destacadas, ao estilo de Karl Lagerfeld, até botas mais pesadas, chegando para evidenciar a dualidade e distinção da proposta mais séria e dark sugerida pelo designer. O resultado foi, então, uma série de tendências que contam com aquilo que as mulheres mais jovens procuram: naturalidade, conforto, casualidade da moda urbana combinada com o requinte, status e glamour da alta-costura.

    Foram estes antagonismos consertados que fizeram da colecção Outono/Inverno 2012 da Chanel uma referência de peso para quem é adepto dessa união.

    Alfaiataria feminina da coleção inverno 2012 [6]       Saias e calças nos looks da coleção inverno 2012 da Chanel [5]

 

Inês Madeira